Investimentos em tempos de: Inflação alta e juros baixos

Duas notícias tem causado uma saudável discussão entre investidores e pessoas devidamente conscientes em relação ao seu dinheiro. A primeira dá conta de que a captação da caderneta de poupança foi recorde em 2012. A segunda atesta que seu retorno real no ano passado foi o menor dos últimos oito anos.
 
Em 2012, ano em que teve suas regras alteradas e passou a render menos, a poupança registrou um saldo positivo (a diferença entre depósitos e saques) de R$ 49,719 bilhões. A maior captação anual havia sido verificada em 2010, quando os depósitos superaram os saques em R$ 38,681 bilhões. Em 2011, a captação havia recuado para R$ 14,186 bilhões.
Se considerado dezembro do ano passado, a captação também foi recorde e ficou em R$ 9,205 bilhões. Trata-se do maior valor mensal da série histórica iniciada em 1995. A caderneta de poupança “bombou”. As razões para isso vão da comodidade e facilidade para investir até o uso da chamada conta poupança, passando claro pela falta de informação e conhecimento sobre alternativas mais interessantes.
Se a captação da poupança foi expressiva, não se pode dizer o mesmo de sua rentabilidade. Levantamento da consultoria Economática mostra que o rendimento nominal (sem descontar a inflação) da caderneta de poupança em 2012 foi de 6,47%, o mais baixo em 46 anos, enquanto a inflação no período foi de 5,84%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Isso significa que o rendimento real da poupança no ano passado, ou seja, o ganho acima da inflação, foi de apenas 0,6%, o menor dos últimos oito anos. O estudo mostrou que o melhor ano para o amante da caderneta, nos últimos dez anos, foi em 2006, quando o ganho real foi de 5,10%.
Estes fatos servem para enfatizar uma verdade importante: o cenário de investimentos se alterou e nós, investidores, precisamos nos adaptar a ele de forma inteligente. Não há nada errado em ser conservador, mas apenas “empatar” com a inflação quando é possível vencê-la sem tanto risco não parece razoável.

Alternativas como Tesouro Direto, Letras de Crédito Imobiliário (LCI), e Fundos multimercados oferecem rentabilidades mais interessantes. Vejamos um pouco mais sobre elas:
Tesouro Direto: Trata-se do programa do governo federal que permite que se negocie títulos públicos diretamente pela Internet, bastando para isso ter cadastro em um agente de custódia (banco ou corretora, por exemplo).
Ao investir, dê preferência aos títulos indexados à inflação e fique com o título até seu vencimento (a alíquota de Imposto de Renda cai para 15% quando o prazo de investimento é superior a dois anos e o resgate é automático na data do vencimento).
Letras de Crédito Imobiliário (LCI): Trata-se de títulos de crédito, lastreados por crédito imobiliário garantidos por hipoteca ou por alienação fiduciária de imóvel. Como no caso de títulos privados (CDB) e caderneta de poupança, a LCI conta com garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para até R$ 70 mil aplicados.
A grande vantagem desta aplicação, que tem sua rentabilidade geralmente como um percentual do CDI/Selic (de 85% a 100%), é que ela é isenta de Imposto de Renda. Essa particularidade a coloca como uma aplicação muito melhor que as ofertas tradicionais de CDBs em grandes bancos, cujo retorno fica em torno de 90% do CDI e há incidência de Imposto de Renda.
No entanto, há dois pontos que merecem atenção: 1) a liquidez não é imediata, o que significa que é preciso respeitar o prazo de vencimento do título, que pode variar de 60 dias a um ano; e 2) O valor do aporte mínimo é elevado, normalmente situado na faixa entre R$ 30 mil e R$ 50 mil.
Fundos multimercados: O aspecto que me agrada nesta modalidade de investimentos é a possibilidade de diversificação dada pelos gestores dos fundos. Como se trata de uma categoria de fundos que mescla diversos ativos, é possível encontrar bons gestores que sabem “aproveitar” oportunidades em diferentes frentes, tais como títulos públicos, ações, commodities e etc.
Para se ter uma ideia, essa foi a categoria de fundos que mais captou entre janeiro e novembro de 2012, num total de R$ 29,5 bilhões de captação positiva. O grande desafio neste caso é escolher muito bem o gestor e entender em detalhes o fundo em que se planeja investir – ler o prospecto cuidadosamente e avaliar o histórico da instituição e do fundo são ações desejadas neste caso.
 
Analisando alguns rankings de fundos de investimento, é fácil notar que muitos obtiveram retornos expressivos em 2012, a despeito do fraco desempenho do mercado de ações, da alta da inflação e do pífio desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Preste atenção ao histórico do fundo em anos sabidamente ruins (crise econômica), compare as taxas de administração e atente para o valor do aporte inicial. Fundos com boa performance normalmente exigem aporte mínimo de R$ 10 mil para cima e cobram taxa de administração média de 2,5%. De uma forma geral, é possível garantir retornos mais interessantes que o da poupança em aplicações com o mesmo perfil de risco (baixo), bem como acelerar a formação de patrimônio através de opções mais inteligentes e associadas a parâmetros importantes, como a variação da inflação. O mais importante é que você, investidor, saia da sua zona de conforto e passe a buscar conhecimento e informações sobre novas e mais rentáveis opções de investimento. Elas existem e são, na maioria das vezes, acessíveis.
 
Por Conrado Navarro
Autor do livro “Vamos Falar de Dinheiro?” e fundador do premiado site Dinheirama.com
Revista Dirigente Lojista


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