O QUE OS EMPRESÁRIOS PRECISAM SABER SOBRE ECONOMIA?

No mundo econômico, dois elementos estão sempre presentes: as previsões e os indicadores.

Tema recorrente, as previsões podem ser bem resumidas por uma frase do humorista canadense Laurence Peter: “Um economista é o especialista que saberá amanha por que as coisas que ele previu ontem não aconteceram hoje.”

O problema da interpretação dos indicadores da economia é um tema muito menos falado em artigos dessa natureza e vale a pena detalhar aqui.

O noticiário econômico envolve muito a divulgação e interpretação de números como taxa de crescimento, cambio, juros, nível de desemprego e outros genéricos. Essa dança de números influencia a bolsa de valores, os empresários e até, em certa escala, os consumidores.

No fundo, essa influencia, muitas vezes, é mais psicológica do que algo realmente relevante. A questão é que tudo pode se tornar realizável. Por exemplo:

“O brasileiro deverá apertar o cinto” – resultado da interpretação de alguns indicadores –e é uma manchete temerária porque influencia algumas pessoas a se preocuparem e conter, de fato, o nível de consumo – o que alimenta um processo recessivo”.

Par ilustrar as flutuações e sua relativa irrelevância, vamos supor que um jornal noticie que a taxa de desemprego aumento de 5,3% para 5,4%. O que isso significa? Provavelmente nada de especial, a palavra “aumentou”está se referindo a uma flutuação absolutamente normal, da mesma maneira que a redução para 5,2% também não significaria muito em termos de “diminuição” do desemprego.

Quando lemos que a venda no varejo caiu 5,1% em relação ao mês passado, também não há, em geral, um grande significado por causa da sazonalidade do comércio. Por exemplo, uma variação sobre o mesmo mês do ano passado, pode ser um indicador vazio quando visto fora do contexto. Por vezes, um feriado deslocado pode explicar a diferença.

Quando se trata de médias, o assunto é algo ainda mais capcioso. Como no caso das previsões, uma frase do escrito italiano Pitigrilli ilustra bem esse conceito: “Estatística: a ciência que diz que eu comi um frango e tu não comestes nenhum, teremos comido, em média, meio frango cada um.”

Quando se diz, por exemplo, que o PIB (Produto Interno Bruto) esse ano vai aumentar 3%, isso significa muito pouco para o seu negócio. Sabe por quê? Não apenas porque é uma previsão, mas também é uma média. Se olharmos diferentes regiões do Brasil e as diversas atividades econômicas, vamos encontrar grandes distorções.

Um exemplo bem claro é a variação do PIB brasileiro. Em 2009, segundo o IBGE, o PIB do Brasil caiu 0,3% entretanto, no Espírito Santo caiu 6,7% enquanto no Piauí subiu 6,2%. O do Rio de Janeiro subiu e o de São Paulo caiu. Nesse mesmo ano, os serviços cresceram 2,1% enquanto as indústrias amargaram uma queda de 5,6%.

Assim é preciso ser cauteloso ao interpretar um aumento do nível de desemprego como um perigo para o mercado de trabalho. A análise depende do cenário do setor da economia e do local e, mesmo assim, ainda está muito ligada à própria empresa e, claro, à própria pessoa.

A questão dos indicadores pode ser desdobrada em duas vertentes: as flutuações e as médias

Portanto, para início de conversa, é necessário acompanhar dados mais específicos que estejam próximos do seu negócio. Os dados mais detalhados servem como ponto de partida para planos de expansão e correlatos. Mas, infelizmente, não são muito conclusivos, como o exemplo do desemprego já citado acima Por quê?

O primeiro ponto é que um processo de aceleração ou desaceleração da economia atual de forma desigual para diferentes produtos e setores no varejo e na economia. No caso de produtos, a microeconomia nos ensina que há aqueles que até se beneficiam com uma crise, porque as pessoas começam a substituir produtos por outros com funcionalidade similar, mas de qualidade inferior. Um estudo recente dos efeitos da crise na Argentina em 2002, usando dados detalhados de consumo, comprovou essa tese.

Assim, mais importante do que ficar refém de indicadores genéricos e de dados de empresas especializadas, é observar de perto o desempenho absoluto e relativo das suas lojas e o desempenho das outras do ramo.

Para avançar nessa argumentação, imagine que a projeção macroeconômica para o seu negócio indique uma queda de 5%, baseada nas expectativas setoriais e ligada ao seu local de atuação. Ao invés de caminhar para o “inevitável”, com a expectativa anunciada de uma queda nas vendas, por que não tomar a iniciativa para conquista mais market share (participação)?

Um pequeno aumento na fatia do bolo pode significar um crescimento expressivo. Digamos que uma cadeia de lojas tem 10% de participação no mercado. Se a empresa ganhar mais 2% por meio de ações como um sortimento mais adequado, precificação mais ágil e diferenciada por loja, gestão de estoque mais enxuta com menos queima, expansão no número de pontos, ações estratégicas de marketing, entre outros; ela terá 12% de um mercado que caiu 5% oque resultará em um aumento de 14% nas vendas. Além disso, um certo clima de pessimismo cria um ambiente favorável para se fazer boas compras.

Para que serve então o noticiário econômico além da informação em si? Ele fornece alguns subsídios para a realização de orçamentos e é utilizado para as empresas que atuam na área financeira ou gestão governamental. Além disso, transmite um sentimento do mercado, que traz por si só alguns desdobramentos, como sua utilização em negociações. Por exemplo, se a SELIC caiu, por que não negociar uma redução nas suas taxas de captação?

A parte da economia mais relevante para o seu negócio é a microeconomia, que explica importantes conceitos. A elasticidade, por exemplo, mostra as relações que existem entre preço e demanda e promoção e demanda, fundamentais para ajuda a dimensionar o mix de marketing.

Outro tema muito palpitante ligado a economia é a nascente “Economia Comportamental”, que explica a motivação das pessoas ao agirem a partir de princípios econômicos simples. Nessa linha, recomendo aos leitores a leitura do saboroso livro “A Lógica da Vida”de Tim Harford.

Em resumo, ninguém deve se sentir prisioneiro do noticiário econômico impessoal e genérico. Leia e se informe, mas não se deixa contaminar muito. Afinal, para isso é que existe o livre-arbítrio!

 

Paulo Buchsbaum – Consultor de Negócios, escritor e palestrante. 


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