NOVO SALÁRIO MÍNIMO - COMO SERÁ O IMPACTO NA ECONOMIA NACIONAL?

Com a entrada em vigor do novo mínimo de R$ 622, cerca de R$ 47 bilhões devem ser injetados na economia brasileira, segundo estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioecnômicos (Dieese). O reajuste não deve causar pressão nas contas públicas, apesar da diferença de 9,2% em ganho real para o trabalhador. O aumento de R$ 77 deve trazer uma despesa adicional R$ 19,8 bilhões para a Previdência  Social. Mas a arrecadação sobre o consumo deve compensar esse gasto com saldo positivo de R$ 22,9.

O Coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado, garantiu que o reajuste está de acordo com o orçamento do Governo. “O aumento está perfeitamente dentro das possibilidades das contas públicas. O governo tinha, inclusive, espaço para arredondar o salário para R$ 625, com já fez em anos anteriores”.

Oliveira também esclarece que os setores mais beneficiados pelo aumento do mínimo serão o alimentício e o de bens de consumo semi-duráveis, como calçados e vestuário, isso porque são industrias mais sensíveis ao ganho salarial da população de baixa renda.

 

Para onde vão os R$ 47 bi?

No contexto geral, aproximadamente 47,6 milhões de pessoas, entre beneficiários da Previdência e trabalhadores, vão ser beneficiados, pois pouco mais da metade dos trabalhadores (50,3), recebe até um salário mínimo.

Parte dos recursos devem ser direcionados para o pagamento de dívidas e consumo, acredita o economista e especialista em investimentos Richard Rytenband. “A economia brasileira sofreu uma forte desaceleração no último trimestre do ano passado. Com o agravamento da crise da Europa, o aumento do salário mínimo aliado a redução da taxa básica de juros vão impulsionar a recuperação da atividade econômica a partir do segundo semestre”, explica. Alguns indicadores antecedentes já confirmam esta recuperação para o meio do ano.

A assessoria econômica da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio SP), Fernanda Della Rosa, também acredita que as pessoas devam utilizar o aumento do mínimo para o pagamento de dívidas ou gastar o excedente que receberam na compra de novos produtos. “No Brasil, estima-se que cerca de 17 milhões de pensionistas recebam remuneração vinculada ao salário mínimo. Para este grupo o aumento de R$ 77,13 representa um adicional anual de R$ 17 bilhões. Além dos pensionistas, pouco mais de 11 milhões de trabalhadores recebem formalmente salário mínimo. O efeito anual desse acréscimo será de cerca de R$ 11 bilhões. Com a injeção desses recursos na economia o comércio tende a apresentar aquecimento nas vendas”, prevê.

A aposta do Governo para o crescimento da economia está baseada na expansão do crédito. “Embora o aumento do consumo sempre cause preocupação sobre a ocorrência de possíveis pressões inflacionárias, o Governo está atento sobre a evolução dos índices e atuará se necessário”, lembra Fernanda, e explica que no primeiro semestre de 2010, o Governo adotou diversas medidas de restrição ao crédito que foram, no segundo semestre, revertidas. “A última medida foi a redução dos empréstimos compulsórios”.

Contratações Formais

Sempre que o salário mínimo é reajustado com valores acima dos da inflação, aumenta o poder aquisitivo dos aposentados e daqueles que estão em início de carreira, como, por exemplo, a geração do “primeiro emprego”. “Mas, há outros efeitos certamente o valor impulsionará os pisos salariais de categorias profissionais que fiquem muito perto do mínimo, levando os sindicatos a buscarem aumentos acima da inflação, pelo menos neste item”, explica o diretor jurídico da Associação Brasileira de Recursos Humanos ( ABRH-Nacional), Wolnei Ferreira, e lembra que haverá aumento nos adicionais que são vinculados ao salário mínimo, especialmente o de insalubridade. “Também os pisos estaduais, fixados pelos governadores de Estado, deverão sofrer reajustes maiores, para não ficarem próximos do mínimo nacional”, completa. No entanto, Wolnei acredita que o mercado de contratações sofra com reflexos negativos, já que a grande maioria das categorias já possui valores acima do salário mínimo ( o governo Geraldo Alckmin já fixou o novo mínimo estadual em R$ 690,00, ou seja, aumento de R$ 90).

Rytenband esclarece que o aumento do salário mínimo isoladamente não será responsável pelo aumento de contratações, mas será mais uma variável que vai impulsionar a recuperação da atividade econômica. “Em 2012 teremos baixo crescimento, mas para 2013 devemos apresentar um forte crescimento similar a 2010”.

Mohamd Akl, presidente da Central Nacional Unimed, explica que a central já paga salários acima da média de mercado, de modo que não se enquadra entre aquelas que terão mais impacto com o novo mínimo. Quanto as outras empresas, ele considera: “Tudo dependerá da saúde financeira de cada uma. De maneira geral, as empresas já precificaram eventuais aumentos de custos em função do novo salário”.

 

Contratações informais

Geralmente, o reflexo do aumento do salário mínimo não afeta as contratações nem o mercado informal de contratações, explica Ferreira. “A informalidade possui outros fatores que favorecem seu crescimento, como a alta incidência de encargos sobre a mão-de-obra, especialmente”. Para ele, categorias que estão muito próximas do salário mínimo, como aquelas de mão-de-obra de baixa qualificação, sofrerão acréscimo em custos. “Mas isso já é tradicional quanto ao repasse, de forma que os clientes que contratam tais empregados receberam com naturalidade o repasse”. Rytenband já coloca que, com a desaceleração da economia brasileira, o ritmo de contratações formais ou informais está se reduzindo. “Com os dados e indicadores antecedentes disponíveis a partir do segundo semestre este quadro começará a ser revertido”, espera.

 

Terceirização e repasse de valores

Rytenband diz que o aumento dos custos automaticamente é repassado aos clientes, num movimento que intensifica a distorção da precificação dos bens e serviços no País. “O brasileiro acaba pagando muito mais do que deveria por um bem e serviço, quando comparado com um similar oferecido no exterior”. Já Alcântara, da FMU, afirma que o custo variável das empresas vede aumentar com o novo salário mínimo, mas que é pouco provável que essas empresas repassem esse aumento aos clientes. “Dado que com a demanda interna pouco aquecida, aumentos de preços podem fazer com que os clientes migrem para empresas que mantenham os preços”.

Fernanda também duvida que o aumento do salário cause impacto negativo para as empresas, pois ela faz parte da sua composição de custos. “A formação de preços contempla custos fixos, custos variáveis e a margem de lucro desejada. O mercado, contudo, é concorrencial, o que limita a prática de preços elevados”. Há de se considerar também que os preços ao consumidor são reajustados conforme o caso pelos índices inflacionários pondera.

Wolnei avalia que os departamentos de Recursos Humanos estruturados, com escalas salariais e quadros de carreira, não se incomodam com o reajuste do salário mínimo, pois seguem a tendência de mercado, avaliando periodicamente seus níveis de competição e retenção de mão-de-obra. “Assim, os salários mais altos não devem ser afetados, pois são medidos por vários outros fatores, não pelo salário mínimo”.

 

Relação funcionário-empregador

Com uma escassez de mão-de-obra qualificada que afeta uma série de setores (como de tecnologia e construção civil), em casos como este,  existe um problema estrutural que eleva os salários, assim como nos setores que possuem um sindicato forte, como o dos bancários, que ano após ano organiza greves para reivindicar aumentos reais. “Com o forte crescimento econômico dos últimos anos e a manutenção deste cenário, será muito comum este tipo de movimento: cabe ao Governo reformar os tributos trabalhistas e permitir que a precificação dos bens e serviços no país não sofra distorções, com o repasse do aumento dos custos”, aconselha Rytenband, e completa: “No atual momento, se compararmos o custo de bens e serviços produzidos no Brasil com o de outros países já vamos verificar tal distorção, criada pelo excesso de impostos”.

 

Índices de confiança

O crescimento da renda afeta positivamente o Índice de Confiança do Consumidor. A escala varia de 0=pessimismo total a 200=otimismo total. Em dezembro, o ICC da FecomercioSP ficou em 158,2 apontando elevada confiança dos consumidores entrevistados. O principal fator que está contribuindo para este alto índice é o bom desempenho do mercado de trabalho. “Os últimos dados divulgados pelo IBGE apontaram que, na Região Metropolitana de São Paulo RMSP, a Taxa de Desocupação em outubro de 2011 ficou em 5,6% da população contra 6,1% registrada para setembro”, explica Fernanda. A massa salarial cresceu 0,5% em relação ao mês anterior chegando 16.341 milhões. “Na trajetória do ano, o valor mais elevado foi apontado em julho quando foi registrada uma massa salarial de 16.450 milhoes. Esses são os fatores que aumentam a confiança do consumidor”, conclui.

Aki complementa dizendo que o processo de recuperação do salário mínimo começou na segunda metade da década de 1990, após o advento do Plano Real. “Então, esses reajustes não surpreendem as empresas, que já consideram essa realidade em seus planejamentos”. O presidente da Central Unimed conta que toda vez que a economia cresce, o segmento de saúde suplementar é impactado positivamente. Portanto, as empresas mais suscetíveis ao reajuste do salário mínimo (alimentos, bebidas, têxteis) tendem a contratar mais pessoais e a ampliar a oferta de planos de saúde como benefício contratual. “A inflação da medicina, formada por honorários médicos, custos hospitalares e laboratoriais, é bem diferente da que norteia os demais segmentos econômicos. Logo, não haverá, em nossa avaliação, um peso maior para os clientes dos planos de saúde, devido ao novo salário”, finaliza.

Em 2012, 75% do que for injetado na economia será destinado à classe média que consome produtos importados. Apenas 12% desse montante serão destinados as camadas mais baixas da população, de acordo com o instituto Data Popular. “Dessa forma, apesar da indústria nacional ganhar com o aumento do salário mínimo, os importadores serão os maiores beneficiados com esse aumento”, sugere Alcântara. Sobre os índices de confiança, ele conclui: “Os índices devem aumentar, dado que a situação pessoal dessa melhoria aumenta o consumo e assim melhora a economia.

 


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