HORIZONTE

Estudos apontam crescimento do consumo, em especial pela nova classe média, mas é preciso estar atento aos hábitos e comportamentos de compra do brasileiro

A maré favorável vai continuar pelos próximos anos. Essa é a conclusão básica dos mais recentes estudos e pesquisas relacionados ao consumo do brasileiro. Ainda que os indicadores de 2011 estejam em geral num patamar inferior ao do ano passado, a tendência é que o consumidor se mantenha confi ante em seu poder de compra enquanto o Brasil navega pelas águas turbulentas da conjuntura econômica internacional.
“Não somos uma ilha. Mas nossos pressupostos econômicos são fortes. Temos economia diversifi cada e mercado interno que está crescendo”, afi rma o doutor em economia Claudio Felisoni de Angelo, presidente do conselho do Programa de Administração de Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA). Uma das pesquisas que apontampara um cenário futuro positivo foi divulgada em junho pela Accenture, uma multinacional especializada em consultoria de gestão, serviços de tecnologia e outsourcing. Realizada em 17 países com 5,8 mil consumidores, a pesquisa revelou que 75% dos entrevistados brasileiros pretendem comprar mais nos próximos 12 meses. Além disso, mostrou particularidades do consumidor brasileiro, como em relação à propaganda boca a boca. No Brasil, ela foi considerada por 85% dos consultados a mais importante fonte de informação na hora de decidir o que e onde comprar. Na média geral, esse índice foi de 56%.
Outra particularidade brasileira: o uso da internet para comentar experiências negativas com atendimento ao cliente. No Brasil, um em cada três compartilha relatos desse tipo nas redes sociais, contra um em cada quatro na média internacional. A pesquisa identifi cou ainda grande insatisfação entre os brasileiros quando o assunto é a agilidade no atendimento: 83% gostariam de ser atendidos mais rapidamente. Também merecem atenção do varejo nacional os índices que mediram a frustração do consumidor em ter de lidar com funcionários que não entendem do assunto (86%) ou não conseguem atender a necessidades específi cas dos clientes (83%). Embora insatisfeito em determnadas situações, a confi ança do consumidor brasileiro segue em bons níveis. Medido pelo Ibope, o Índice Nacional de Expectativa do Consumidor (Inec) mostrou ligeira melhora em julho, com crescimento de 1,3% em relação ao mês anterior. No entanto, na comparação com julho de 2010, as expectativas para os próximos seis meses são menos otimistas. Os destaques negativos são o maior pessimismo quanto à infl ação (queda de 8,6% no índice) e a piora na avaliação a respeito do endividamento (recuo de 5,4% no índice).
Os indicadores econômicos tendem a mostrar pequena desaceleração no crescimento do País durante o segundo semestre deste ano e ao longo de 2012, de acordo com a Tendências Consultoria. Mas o consumo deve seguir aquecido na medida em que o mercado de trabalho continua contratando. A projeção é que, com a inflação sob controle, 2013 e 2014 serão bons anos para a economia. Esse cenário positivo deve ser mantido até o fim da década, com aumento gradual de produtividade e juros nominais menores no médio prazo.As tendências positivas são comemoradas sobretudo pela nova classe média brasileira, a classe C, que representa mais da metade da população do País: quase 100 milhões de pessoas.
Nos últimos anos, o aumento do poder aquisitivo desse segmento vem provocando mudanças no perfil do consumidor brasileiro. O que fez o Ibope realizar a mais completa pesquisa até hoje sobre hábitos de consumo e comportamento da classe C, com 20 mil entrevistas nas nove maiores regiões metropolitanas, em Campinas (SP) e em cidades do interior do Sul e Sudeste.
O Ibope identificou, por exemplo, um aumento de 10% no uso de cartões de loja e de 8% no de cartões de crédito, de 2005 a 2009. No total, 25% dos entrevistados afirmaram usar cartão de loja e 53% cartão de crédito. “É um fator concreto de expansão das possibilidades de consumo”, diz a pesquisa, que também revelou curiosidades. Entre os produtos para o corpo, informa o Ibope, “apenas protetor solar e enxágue bucal têm potencial de desenvolvimento na classe C”. Já a máquina de lavar aparece como o principal desejo de consumo. “A nova classe média significa a grande ampliação do mercado interno. Vamos discutir como aproveitar melhor essa oportunidade”, afirma o secretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos Ricardo Paes de Barros. Segundo ele, uma dificuldade para se definir ações mais pontuais é o fato de a classe média ser extremamente heterogênea. “Temos todos os tipos de pessoas na classe média. Isso dificulta o desenho das políticas públicas”, diz.
Heterogênea sim, mas com hábitos e comportamento de consumo semelhantes. De acordo com o Ibope, planejamento, pesquisa de preços e busca por oportunidades são diretrizes universais de compra. O comportamento em relação a marcas também é parecido entre as classes C e AB, ou seja: é possível haver fidelidade entre marca e consumidor; marcas estabelecidas merecem mais confiança e são referências para a compra; marcas novas merecem ser conhecidas; inovação agrada a todos. “As diferenças são muito menores hoje em dia. Os padrões de consumo são copiados, introjetados pela TV e pela internet. Vivemos num mundo mais igual”, afirma Claudio Felisoni. Segundo ele, o poder da internet se faz sentir no varejo: “O varejo físico cresceu de 12% a 13% no ano passado, enquanto o comércio eletrônico aumentou 40%”. De acordo com a e-bit, empresa que realiza pesquisas sobre o mercado virtual, no primeiro semestre deste ano 61% dos novos consumidores on-line vieram de famílias com renda mensal de até R$ 3 mil, dos quais 55% eram mulheres. Um dado da e-bit diz respeito à classe C: desde 2009, 5 milhões de consumidores desse segmento passaram a fazer compras pela internet.
Comodidade
Outra pesquisa sobre hábitos de consumo revelou que o brasileiro consome mais industrializados que alimentos frescos. Divulgada no início de agosto, a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), informou que, quanto mais cresce o rendimento familiar per capita, menor é o consumo de itens saudáveis, como arroz, feijão e peixe fresco, e maior o de pizzas, salgados fritos, doces e refrigerantes. A ressalva é que as classes com maior poder aquisitivo tendem a comprar mais frutas, verduras e laticínios diet e light.Ainda assim, segundo o IBGE, a ingestão diária de frutas, verduras e legumes está abaixo do recomendado pelo Ministério da Saúde para 90% da população. Um dado curioso é a alta de 50% no consumo de azeite de oliva. O consumo desse tipo de alimento se concentra nas classes A e B, que tiveram gasto 511% superior à média. Atento à crescente demanda, e por ser um produto de maior valor agregado, o Carrefour oferece em suas lojas uma seleção exclusiva de azeites de marcas espanholas, portuguesas, italianas, argentinas, gregas e brasileiras, alguns de venda exclusiva em suas lojas no Brasil, além dos itens da Marca Própria Carrefour. 
Entre os importados, o consumo cresceu bastante no segundo trimestre  deste ano. Segundo levantamento da LCA Consultores, 21,6% dos produtos industrializados consumidos no período vieram do exterior. Eram 19,1% no mesmo período do ano passado.
Entre janeiro e junho, conforme a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a presença dos importados aumentou 13,7%, enquanto a produção industrial brasileira cresceu apenas 1,7%. Se a presença mais forte dos importados devido ao dólar baixo é hoje uma ameaça à indústria brasileira, a abertura às importações ocorrida há mais de 20 anos, no governo Collor, foi, segundo Claudio Felisoni, o marco inicial no processo que vem dando mais poder de compra e escolha ao consumidor brasileiro. “Foi um momento importante para esse processo.
A indústria e o varejo sofreram. Mas hoje o varejo está mais profissional e proativo. Evoluiu muito.”


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