Crise reforça o varejo como elo da cadeia de valor

O comércio de bens e serviços atua como o setor que baliza as percepções e expectativas das pessoas em relação à economia, ocupando posição estratégica para tomada de decisões mais assertivas, cujos efeitos são sentidos por toda a cadeia de valor. Diferente do período, já longínquo, da Revolução Industrial, hoje, atua como canal de comunicação e transmissão, contribuindo ativamente para a renovação tecnológica. Portanto, tornou-se crucial fonte de informações para respostas às perguntas: O que produzir? Como produzir? Para quem produzir?
A tríade econômica que desafia o dia a dia de todas as empresas, independentemente do porte ou da categoria de negócios, ganha nova conotação no ambiente da sustentabilidade. O consumidor está cada vez mais atento a sua importância nesse processo e consciente das exigências ambientais, sociais e econômicas. Há um movimento de inteligência coletiva se consolidando velozmente através das diversas ferramentas de aproximação, tais como a internet, que disseminam novos olhares, atitudes, formas de comércio, produtos, ações-reações e horizontes, que irão pressionar empresas a agirem de forma sustentável.
Isso envolve ações de relacionamento em cadeia que envolve fabricante, distribuidor, comerciante e consumidor, formando uma rede coesa e ampla. As palavras de ordem são cooperação, compartilhamento de conhecimento e experiências, buscando um mercado livre pautado não na vantagem competitiva individual, mas, sim, na competitividade sustentável.
O ambiente econômico deste segundo semestre está bastante movimentado, pois a crise financeira das economias americana e européia volta a rondar. O tamanho do impacto não há como dimensionar. Será uma marola como a vivenciada em 2008 e 2009? Especialistas divergem quanto ao tamanho dos efeitos no fluxo do comércio exterior, da saúde do sistema financeiro (leia-se crédito), instrumento vital para dinamizar os negócios do mundo real. Sem dúvida, a contaminação na percepção das pessoas, empresários e governos já existe, ou seja, uma mudança no olhar econômico prospectivo. Trata-se, mais uma vez, do momento de entender e valorizar o comércio como elo de toda a cadeia de consumo. É crucial acompanhar o consumidor, valorizando-o como canal de transmissão e ponto que dá partida ao ciclo produtivo, disseminador de ações para todas as cadeias de valor. É o consumidor que irá abrir as janelas de oportunidades geradas pela crise.
O cenário econômico mudou? Os empresários do comércio irão frustrar-se quanto ao futuro comportamento da demanda neste fim de ano? O que podemos esperar para formar os estoques? O consumidor continuará confiando no futuro da economia? As perguntas são muitas e devem ser feitas e refeitas a todo o momento, o que é natural para um empreendedor atento ao cenário econômico e que busca satisfazer e surpreender seu cliente através da gestão eficiente e sustentável. Não se pode desprezar a experiência das crises passadas para nortear estratégias mais assertivas, sem perder o foco da importância do consumo neste mercado inclusivo.
A economia do país deverá crescer em torno de 3,5% em 2011, patamar mais modesto que os 7,5% alcançados em 2010. Tal desempenho deverá ser sustentado pela recuperação dos investimentos e pela capacidade reativa da demanda doméstica. Essa, pautada na confiança do consumidor, cuja percepção coletiva está diretamente correlacionada à situação de sua finança pessoal e, sobretudo, nas questões de ordem macroeconômicas que afetam sua capacidade de compra e de endividamento, ou seja, renda, emprego, crédito e preços. Isso, sem perder de vista que a demanda tem comportamento pró-ativo, influenciado pela expectativa do recebimento do décimo terceiro salário, incrementado pela formalização do trabalho e pelo aumento real obtido por algumas categorias profissionais. O ambiente econômico continua favorável para o consumo, a despeito do ritmo mais lento do crescimento da indústria e das vendas de algumas categorias de produtos, que adicionado ao efeito calendário, dão fôlego adicional para bons negócios.
De qualquer maneira, vale lembrar que o comércio vem crescendo de forma consistente nos últimos anos, 5,9% em 2009 e 10,9% em 2010. As estimativas apontam expansão mais moderada para 2011, na órbita de 6,5%, diante do cenário de maior incerteza internacional e de medidas monetária e fiscal de controle inflacionário. Cabe acompanhar as futuras políticas que poderão ser tomadas diante da crise internacional. Oportunidades e desafios constituem parte natural da gestão empresarial, o que exige acompanhar os indicadores de confiança.
Independentemente do grau e da intensidade da crise, o importante é entender o papel do comércio como elo na cadeia de valor. O consumidor ter o poder de pressionar, atuando como canal de transmissão de informações no âmbito econômico, social e ambiental. Aí está o caminho para decisões assertivas e sustentáveis, realidade imposta às empresas de vanguarda.
* Coordenadora do Departamento de Economia da Fecomércio Minas


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