INFLAÇÃO EM ALTA JÁ ASSUSTA

Consumidor é quem arca com os aumentos de preços medidos pelo IPCA. Apesar disso, a expectativa é que a situação seja controlada.

O ano de 2011 vem sendo marcado pela alta dos índices que medem a inflação. Mantê-la no centro da meta estipulada pelo Banco Central para o ano, 4,5% , já parece improvável e muitos economistas já dão como certo um índice inflacionário superior aos projetos pelo governo. “Por causa do crédito e das variações cambiais, os indicadores de inflação têm batido recordes sucessivos ao longo do tempo. Acredito que as projeções podem superar – e muito – o teto da meta”, avalia o professor de economia das faculdades Uma e Ibmec, Felipe Leroy.

A opinião coincide com a do coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento do Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), Wanderley Ramalho, que já percebe certa instabilidade no controle inflacionário. Ele, porém, é mais cauteloso: “Vamos fechar o ano encostando ou quase estourando o limite da meta, que é de 6,5%”, afirmou.

A divulgação no dia 6 de maio de Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que mede a inflação oficial do país, confirmou as expectativas dos economistas. Em abril, o índice fechou em 0,77%, pressionando mais uma vez o resultado anualizado. Nos últimos 12 meses, o índice foi de 6,51%, ultrapassando ligeiramente o teto estabelecido pelo BC para 2011.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em entrevista recente, já havia alertado que a inflação do mês de abril seria alta. Contudo, ele afirmou que a partir da segunda quinzena de maio os índices deverão cair. “A inflação vai ser trazida para o centro da meta, de 4,5% em 2012. Nessa trajetória, teremos um período em que a inflação possivelmente superará o teto da meta”, observou.

Sobre os motivos que têm levado à alta da inflação, Wanderley Ramalho aponta o aumento do preço das commodities e da alimentação – esta, no caso particular do Brasil em função de problemas climáticos – como os grandes responsáveis pelo repique inflacionário. Já Felipe Leroy acredita que o estímulo ao crédito levou ao aumento do consumo, pressionando os preços para cima. “Meu diagnóstico é de que temos uma inflação de demanda. Todo mundo está consumindo mais e aí temos uma projeção de preços futuros muito elevada”, afirmou Leroy.

A conseqüência imediata desse quadro é a perda do poder real de compra do consumidor. “Quem paga tudo isso é a sociedade. Se a pressão inflacionária continuar, o consumidor vai se deparar nas prateleiras com preços mais altos e o governo não conseguirá aumentar o nível salarial”, pontuou Leroy. O impacto da alta da inflação será sentido principalmente pelas classes com menor poder aquisitivo, segundo o coordenador do Ipead, exatamente porque foram as classes mais beneficiadas nos últimos anos. “O ganhos obtidos no processo de inclusão que foi desencadeado, podem ficar ameaçados se a alta inflacionária persistir”, explicou.

SOLUÇÕES

O professor Leroy afirma que as atitudes vêm sendo tomadas de forma gradual no sentido de se criar um equilíbrio. Mas alertou que a situação precisa mudar. “No  final de tudo, quem paga toda essa conta é o consumidor final. Nós pagamos a conta da inflação, de políticas ineficientes do governo que vão acabar se refletindo na carga tributária. Isso é muito sério”, disse.

Sempre que o controle inflacionário é colocado em risco, o Banco Central recorre a uma velha prática para evitar a pressão sobre os preços: a elevação da taxa básica de juros, a Selic, que já está na casa dos 12%. Mas nem sempre a solução para o problema da inflação está nas políticas monetárias. “Só a taxa de juros não resolve porque várias pesquisas mostram que, no Brasil, as pessoas não dão muita bola para o tamanho dos juros. O que elas verificam é se a prestação cabe no salário”, afirmou Wanderley Ramalho.

Segundo ele, é necessário que o Governo adote uma postura mais explícita, principalmente no que se refere à redução dos gastos públicos. “As medidas não estão sendo suficientes para controlar a inflação, então o governo vai ter que mostrar um empenho mais firme e, de fato, assumir o controle da situação. A sociedade não pode ficar em dúvida. Esse clima de incerteza sobre como o governo vai atacar a inflação dá ensejo a muita especulação. Entao as pessaos começam a querer adivinhar preços e isso é ruim”, esclareceu.

 

INCERTEZAS

A Alta da inflação faz com que um clima de indefinições paire sobre vários setores da economia, como o hoteleiro. A diretora administrativa da Associação Brasileira de Agências de Viagem em Minas Gerais ( Abav-MG), Regina Casale, explicou que a inflação ainda não se refletiu em aumentos de preócs no setor, mas que em breve os turistas possivelmente encontrarão uma situação diferente no que se refere a preços e financiamentos. Segundo ela, o preço final de uma viagem segue uma cadeia. “Se o hotel aumenta o valor da tarifa, isos vai ser repassado para as agências de viagem e aí a conta vai chegar ao consumidor”.

Mesmo com a inflac’~ao fugindo à meta estabelecida pelo governo, a situação ainda está logne do que acontecia em décadas passadas, quando os índices inflacionários chegaram a patamares extremamente altos. No entanto, Leroy alerta que o consumidor precisa ter muita atenção às projeções de médio e longo prazo, principalmente no que se refere aos financiamentos imobiliários e de automóveis corrigidos pela inflação. “Eu financio a prestação hoje, cabe no meu bolso, mas daqui a cinco anos o meu salário não estará reajustado pela inflação e eu não sei se conseguirei pagar. É um risco muito grande”. Lembrou o economista.

 


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