Loja colaborativa aluga espaço para empreendedores e modelo de negócio cresce no País

Mais de duas mil marcas estão na fila de espera – que pode demorar até dois anos – para expor os seus produtos em uma das “caixas” da primeira loja colaborativa do Brasil, a Endossa, localizada na Rua Augusta, em São Paulo. A grande procura reflete o sucesso desse modelo de comércio criativo que vem crescendo a passos largos em todo o mundo. No Brasil, a Endossa, criada em 2008, materializou o novo conceito colaborativo de vendas. A loja disponibiliza espaços nas prateleiras para pequenos empreendedores de diferentes segmentos que, em geral, ficam à margem do mercado varejista.
 
“Trata-se de uma alternativa inovadora e atraente para quem deseja vender, mas não dispõe de recursos para investir em uma loja própria”, explica Gustavo Ferriolli, um dos sócios da empresa, que já conta com seis unidades no Brasil e planeja o crescimento da marca por meio de franquias.
 
O disputado “lugar ao sol” nos nichos da Endossa pode valer de R$ 140,00 a R$ 900,00, dependendo do tamanho e da localização da "caixa". Em contrapartida, a loja oferece toda a infraestrutura, inclusive, vendedores, meios de pagamento e marketing. O contrato é mensal e pode ser estendido se o expositor atingir a meta de vendas, que é proporcional ao tamanho do espaço que ocupa. A curadoria é feita pelos clientes — ou melhor, pelo sucesso ou não das vendas —, já que todos os espaços alugados precisam atingir determinado número de “endossos”, daí o nome da loja.
"Quando os clientes compram / endossam o produto, o artesão garante a sua permanência por mais tempo. Caso ele não atinja as metas, perde o espaço. Esse conceito faz com que o estabelecimento tenha sempre novidades. Além disso, esta filtragem colaborativa aproxima os consumidores aos itens mais desejados”, explica Gustavo.”
 
Embora cada loja tenha um mix de artigos adaptado a seu público, Ferriolli adianta que acessórios femininos, óculos, camisetas e pequenos objetos de decoração costumam liderar as vendas. “Nosso público busca produtos diferenciados e criativos”. Ele ressalta, no entanto, que as lojas não se comprometem em vender itens com legislação específica (tabaco, álcool etc.) ou perecíveis (trufas, brigadeiros etc.). Mensalmente, centenas de novos interessados procuram a Endossa e os espaços são alugados, especialmente, para artesãos, estilistas e designers. O faturamento da loja é proveniente do aluguel das caixas e do pagamento de uma taxa de administração, que cobre os custos variáveis das vendas, entre eles, impostos, taxas de cartão, antecipação de vendas a crédito, sacolas e embalagens para presente. Este valor varia de acordo com o porte de cada loja.
 
Com o objetivo de facilitar todos os processos de compra nos seus espaços, a Endossa disponibiliza um software de cadastro dos artigos, acompanhamento das vendas e gestão do estoque. “Com esta facilidade, microempreendedores podem acompanhar de casa todos os passos. No entanto, é preciso comparecer regularmente à loja para repor os produtos e organizar a caixa”, explica. Reunindo todas as unidades, espalhadas por São Paulo e Brasília, ao mês, 40 novos expositores têm a oportunidade de vender os seus produtos na Endossa. Desde a inauguração, dez marcas nunca perderam o posto e seguem expondo nas cobiçadas ¨caixas¨. Toda a rede conta com 40 funcionários.
 
Para prosperar nos “endossos”, Gustavo dá algumas dicas. “Primeiramente, é preciso estudar a concorrência de produtos similares e, a partir dai, criar uma proposta de valor para os itens que se deseja expor, seja por meio da diferenciação, inclusive, na forma de organização dele dentro das "caixas", ou na estratégia de preço. Deve-se observar sempre o mercado ao redor e ser original”. O empresário ressalta, ainda, a importância da colaboração mútua neste modelo de negócio. "Todos os envolvidos devem contribuir na divulgação de seus produtos e da loja como um todo. Afinal, se cada locatário fizer a sua parte, esse ciclo se torna completo e todos saem ganhando".
 
Vantagens colaborativas
 
Para os empreendedores que buscam inovar no mercado, a economia compartilhada tornou-se uma grande aposta. As lojas colaborativas viraram uma tendência, na qual os próprios empresários se ajudam em busca do desenvolvimento do negócio, ou seja, cada um dá suporte naquilo que é melhor. Além disso, os custos e os riscos associados mais baixos, visto que há uma divisão de responsabilidades, maior nível de experimentação e um menor tempo de resposta. Outro grande benefício é a possibilidade de divulgação da marca no mesmo espaço onde se encontram aquelas mais consolidadas no mercado. "É uma oportunidade ímpar para que os microempreendedores construam e fortaleçam suas marcas e ganhem público", diz Gustavo. Além disso, há chances para firmar parcerias com outros empreendedores e o modelo não requer que os locatários fiquem constantemente no espaço de venda, ou seja, é possível focar na produção ou em outros negócios. É uma parceria boa para os dois lados. Enquanto o microempresário pode expor seu trabalho e sentir a aceitação do público de imediato, o dono da loja colaborativa consegue ter produtos exclusivos, diferenciados e diversificados. Com isso, acaba atraindo visitantes selecionados e com interesses distintos. A estilista Pamela Gasques, por exemplo, expõe roupas e acessórios na Endossa de Brasília e conta que a loja alavancou as vendas da marca. “Comecei com a menor caixa e, com o feedback positivo das clientes, passei a focar nos itens mais aceitos e precisei expandir o meu espaço¨, comemora.
 
Os empresários Luana Ponto, Maíra Belo e Victor Parucker, que levaram a Endossa para Brasília, afirmam que o ponto forte desse empreendimento é incentivar micro e pequenos empresários a terem oportunidade no mercado com um negócio próprio. “A ideia é ajudar os empreendedores a terem uma loja própria a um custo muito mais baixo”, afirma Maíra. “Eles entram com o produto, produção e preço, enquanto nós focamos na parte administrativa, no vendedor, na loja, na estrutura e no pagamento de impostos”, completa Luana.
 
 
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Nova aposta: crescimento da marca via franquias
 
Para os próximos anos, os planos da Endossa estão focados no crescimento via franchising. “Estamos prontos para expandir a rede, por meio de franquias, tanto em São Paulo, quanto em outras capitais, como, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife”, afirma Ferriolli. A taxa para se tornar franqueado da marca é de, aproximadamente, R$ 30 mil, além do pagamento de royalties mensais.
 
Atualmente, a Endossa já conta com cinco franquias, sendo três em São Paulo — no Centro Cultural São Paulo, na Galeria Metropole e na Fradique Coutinho — e duas em Brasília, na Asa Sul e na Asa Norte. A expansão, no entanto, não tem pressa. “Nossa prioridade é estar sempre no melhor ponto comercial possível para evitar concorrência. Isso demanda um investimento alto, por isso, selecionamos bem os franqueados”, complementa o empresário.
 
A crescente procura e o sucesso desta modalidade de negócio reforça que, cada vez mais, a criatividade e a coletividade serão as maiores inspiradoras e aliadas daqueles que sonham em empreender no Brasil. A expansão das lojas colaborativas em todo o território nacional está ai para mostrar que a união realmente faz a força, ainda mais no competitivo mundo dos negócios.
 


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