NA ONDA DA CRISE

O mar não está para peixe. A maré sobe e com ela a inflação, os juros, o dólar. A maré baixa e há a retração do consumo, o arroxo fiscal, e tudo aquilo que, no final das contas, pesa no fluxo de caixa e na gestão de um negócio, seja de qual setor ele for. O que fazer então para o caso de ter que “pescar” receita e fazer sobreviver sua empresa? Se o peixe morre pela boca, o empresário pode morrer pela mente. 
 
Na crise, um dos maiores erros cometidos por um empreendedor é, sem dúvida, pensar no pior. Além dos dados reais da nossa economia, há a crise de confiança. Acreditando que tudo tende a piorar, colocamos o pé no freio, e o ritmo de crescimento cai. Mas, ao contrário do que se pensa, agora é a hora de sair da zona de conforto, de resistir bravamente às pressões, de superar os desafios e de mudar de atitudes. Em um cenário como este em que estamos inseridos, a capacidade de entender o que mudou e de planejar é importante, assim como repensar as práticas e fazer do momento um trampolim para novas conquistas e aprendizado. Segundo o palestrante e consultor na área de vendas, William Caldas, profissionais envolvidos com administração e negócios, especialmente os da área de vendas, devem parar para pensar: “estou perdendo vendas por causa da crise, dos meus concorrentes ou do mercado”? Perguntas que remetem à reflexão são sempre muito importantes, principalmente em tempos nublados. De que forma o momento atual está afetando você e sua empresa? O que deverá ser feito para colher as oportunidades que a crise está oferecendo? Qual é seu plano? “Não ficar parado no tempo deve ser um deles”, afirma Caldas. Para ele, na crise também é tempo de investir em treinamento e capacitação da equipe e reinventar o negócio sem deixar, é claro, de se atentar para as tendências e inovações do mercado, oferecendo as melhores experiências para os clientes e consumidores. “Experiência provoca resultado”, afirma. Além de atualizar seus conhecimentos essas atitudes fazem com que o profissional crie um diferencial competitivo frente aos seus concorrentes. Os resultados de uma pesquisa nacional são claros: apenas 30% das empresas investem em treinamento, sendo que apenas 15% dos profissionais investem recursos próprios em capacitações. A conclusão então é que, quem se prepara, tem melhores chances de se darem bem em qualquer situação. “Quanto mais estudo algumas grandes empresas, mais vejo o quanto elas perdem oportunidades para elas mesmas” conclui o consultor. Para ele, independente da crise, é sempre bom avaliar também o desempenho da equipe. “Se cada dez clientes entram em sua loja e três compram, algo está indo muito errado,” conclui. Segundo ele, a falta de treinamento e até mesmo o desconhecimento dos produtos, pode sim afetar a receita no final do mês. “Para alguns o cenário de crise é apenas uma justificativa daquilo que se já se fazia antes dela”, completa Caldas. Dessa forma, comportamentos empreendedores são necessários e sempre bem-vindos: iniciativa e busca de oportunidades, persistência, correr riscos calculados, busca de informações, busca pela qualidade e eficiência, comprometimento, planejamento, gestão e controle sistemáticos, independência e autoconfiança, rede de contatos e persuasão. “Transferir a responsabilidade do mau negócio para a crise não vai funcionar nessa hora”, finaliza William Caldas CRISE NÃO É PARA SER TEMIDA Apesar do pessimismo generalizado que sofrem os brasileiros, é importante manter o otimismo e pensar que ela é apenas temporária. Para quem age assim, a tendência é tudo ficar mais fácil. Ficar parado não funciona e deixar para trás velhos hábitos da época da bonança, leva o otimista para caminhar lado a lado com quem está em sua frente. Para o presidente da FCDL-MG, Frank Sinatra esta não é a primeira vez que enfrentamos uma crise e outras virão. Segundo o dirigente que também é varejista há mais de 30 anos, o cenário as crises aparecem, mesmo por irresponsabilidade de outros, para que mostremos nossa força. “Vamos redobrar nossos esforços e virar essa mesa. Vamos mostrar nossa verdadeira dimensão, dedicando mais tempo para a discussão de nossos interesses e priorizando nossas reivindicações. Esmorecer, nunca! Juntos, somos mais fortes que qualquer crise. Crise é para ser vencida,” deixa seu recado. Muita gente vai sair mais forte e preparado dessa crise. Basta escolher vencer ou cruzar os braços. E você, já fez sua escolha? 30 Federação em Ação – mar | abr de 2015 CAPA Do site da Endeavor pegamos uma entrevista com o empreendedor, executivo, investidor Francisco Valim com suas dicas de para superar a crise e crescer nos negócios. Quando empreendeu pela primeira vez, aos 22 anos, ele criou um CRM e um marketplace – termos que ninguém nem sabia o que significavam – para venda de arroz a granel. Ex-CEO de empresas como Oi, Net e Serasa Experian, Francisco Valim hoje investe seus recursos na missão de ajudar outras empresas a crescer e acredita que a crise nada tenha a ver com isso. Sócio-fundador do Bambuza Capital e otimista, em um evento realizado pela Endeavor, Valim trouxe visões interessantíssimas sobre a crise e deu dicas de como desenvolver uma estratégia de crescimento, independentemente do momento do país. Vindo de um executivo que já enfrentou inflação de 100% ao mês e implementou grandes reestruturações no mundo corporativo, é garantido encontrar conselhos bastante valiosos. Confira: 
 
1 EVITE TRAZER A CRISE PARA DENTRO DA EMPRESA 
“O Brasil tem complexidades que em outros lugares já estão mais bem resolvidas. Apesar disso, tenho visto número e qualidade evoluindo – há um novo fluxo de empresas querendo entrar no mercado. Hoje, tem uma vantagem em se trabalhar com startup: não tem crise. A conversa é diferente da de empresas grandes. O que você escuta é “quero crescer 200% esse ano”, e ninguém se preocupa quanto está o dólar. Se a gente parar para discutir a crise, a gente desiste. É algo que eu sempre evitei. Como empreendedor, você não gere variáveis macroeconômicas, você gere um grupo de pessoas. É saudável participar da discussão da crise, mas não levá-la para a empresa”. 
 
“Empreender é: ter sucesso com aqueles que atuam junto de você” Francisco Valim 
 
2 APROVEITE O POTENCIAL BRASILEIRO DE BAIXA COMPETITIVIDADE 
“Ainda existe oportunidade de crescimento no Brasil em muitas áreas, além de que temos uma classe média muito robusta. As empresas grandes não conseguem resolver alguns problemas que uma empresa pequena pode resolver. Em empresa menor, você tem muito mais flexibilidade, principalmente em termos de receita. É possível pegar uma avenida menos movimentada. No ecossistema empreendedor americano, por exemplo, seria muito mais difícil se diferenciar. Aqui, há um menor contingente de pessoas tentando atingir os mesmos mercados”.
 
3 RISCOS EXISTEM SEMPRE, PRIORIZE A ALOCAÇÃO DE RECURSOS 
“Os riscos não necessariamente são agravados em um momento de crise. O empreendedor só tem que se preocupar com uma coisa: não ter caixa. É a única coisa que mata a empresa. Você pensa: ‘tenho caixa pra passar qualquer momento de aperto? Beleza. Talvez então eu tenha que crescer ou contratar menos, ser mais espartano nos investimentos, mas não preciso parar de crescer’. É impossível encolher a empresa para a grandeza. De forma bem básica, estratégia é alocação de recursos: gente e dinheiro. É preciso estabelecer objetivos para as pessoas, com recursos financeiros alocados para isso. Se der errado, tem aqui guardado pra um outro investimento”. 
 
4 FOMENTE UMA CULTURA DE ATENÇÃO ÀS PESSOAS E INOVAÇÃO 
“Na minha carreira, sendo formado em finanças, a maior dificuldade foi sair da posição de analista para gerente de planejamento. Eu deixei de ser um cara técnico para gerir caras como eu. Era um exercício muito difícil, mas só tinha um jeito de eu crescer na carreira: ter alguém que pudesse me substituir eventualmente. Qualquer chefe tem uma limitação: são as 24 horas do dia. Se ele quer tomar todas as decisões, não dá certo. Se ele consegue fazer com que outros tomem decisões e aceita conviver com erros, ele cresce. Isso porque, para não cometer erros, o funcionário se esconde em um canto: não corre risco e a empresa fica estagnada. A criação de uma cultura organizacional que permite a inovação é um processo constante. Quanto mais as pessoas sabem o que é esperado delas, mais eficiente é o processo. Você precisa deixar tudo bem transparente. A pessoa se sente ‘autorizada’ a correr riscos. Se ele erra, a pergunta deve ser ‘ok, erramos, o que vamos fazer agora?’. Se você fala ‘seu burro, por que não conseguiu?’, já era – da próxima vez, ele não tenta”. “Empreender é: ter sucesso com aqueles que atuam junto de você” Valim finaliza a mentoria coletiva com bastante inspiração e compartilha uma lição tirada de sua própria trajetória: “O que me motivou sempre foi a capacidade de fazer a diferença em um determinado lugar. Você está, você não é. Quando você deixa de ser (o executivo, por exemplo), aquele seu contato não te liga mais, não está nem aí pra você”. Quando absorveu isso, disse ter se dado conta de que se ele está em uma posição específica, não é por todos os benefícios materiais, e sim por uma missão. E complementa: “Quando você chega em uma etapa da carreira que você encontra uma oportunidade de fazer muita diferença, você vai. Nós, no Bambuza, dependemos exclusivamente do crescimento dos empreendedores em que investimos. Eu tive oportunidade de aprender muito e muita gente me ajudou nesse processo. Quero dar certo junto com as pessoas e devolver um pouco à sociedade”.


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